Antes era fácil



Uma das coisas mais aborrecidas que os 30 me trouxeram foram uma (ainda) maior empatia para com o mundo em geral. A maternidade e o inato terror a julgamentos errados vieram também. Vai-se a irreverência e parvoíce típica dos 'intes' e daquela fase da vida em que achamos que já sabemos tudo, que o mundo nos pertence e que os vamos transformar, que tudo o que aconteceu antes faz sentido no antes. Os novos tempos pedem novas vontades, atitudes e modos, nessa fase somos os fazedores do futuro e sabemos muito sobre muita coisa mas falta-nos tanto. 

Com a maternidade em particular nascem igualmente os medos, os muitos medos. 
Os nossos medos e dos outros, medos de sempre e medos novos. Com a maternidade chegou o respeito ainda maior pela liberdade e singularidade de cada individuo, o direito que lhe assiste à sua qualidade de ser único, especial. 

O todo trouxe uma mudança radical na irreverência e desprendimento em relação às palavras, ditas e escritas. Os erros somados, os fracassos e as desilusões fazem o resto. A honesta e real percepção do eu, o apaziguamento da relação com o ego, com as expectativas (minhas e de outros), sonhos ou planos mal traçados fazem o resto. 
Mostram o peso e responsabilidade da expressão escrita e falada. Mostram os juízos que não temos direito de fazer, da falta da total perspectiva que certas opiniões exigem para que façamos a tolice de debitar idiotices como quem sabe tudo sobre todos. 
Voltar a escrever é difícil por isto, pela responsabilidade de o fazer, pela consciência de que tudo o que dizemos tem um peso inquestionável, fica firmado. 

Dizemo-lo a nós mesmos e isso tem de ser sinónimo de verdade e não de vaidade. Da nossa verdade e ética, dos nossos valores apregoados ou intrínsecos, respeitando a diferença como algo bom que nos traz proveito, diversidade que nos acrescenta valor. Antes era mais fácil, mas o objectivo é (também) combater fraquezas, por isso vamos lá. 

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